13 de fev. de 2008

Pensando o Amor

Everaldo Lins
filósofo

" (...) Agora, pois, permanece a fé, a esperança e o amor, estes três porém o maior destes é o amor" (Paulo.1Co.13,13).

O apóstolo Paulo eleva o amor a uma posição de destaque diante mesmo da fé, o que pode até nos parecer estranho. E é exatamente esta estranheza em relação ao amor que nos leva a indagar sobre ele.
As perguntas básicas: O que é o amor? Qual a sua natureza? O que o faz tão desejado? Por que o ser humano anseia incansavelmente por ele? São questionamentos de caráter filosóficos, portanto problemáticos quanto a uma resposta satisfatória e única. Para cada efêmera e possível resposta, surge um oceano de questões abertas e fundamentais.
O tema do amor sempre foi objeto de reflexão, continuamente ocupou e ocupa o pensamento de muitos estudiosos, no intuito de compreender como o fenômeno amoroso se comporta,se expressa a partir de quem com ele se relaciona, de forma implícita ou explícita.
Para compreender um conceito, em certa circunstância, é conveniente recorrer aos préstimos da etimologia. Vejamos: Embora saiba-se que a palavra amor venha do Latim "amor" com o sentido de afeição, amizade, "paixão", "desejo", gosto, querer etc.; estudiosos supõem que a raiz "am" se liga aos vocábulos "hómos" (do grego) significando semelhante , "am" (do sânscrito) com a idéia de honrar e "ham" (do hebraico) querendo significar queimar. Associado a essas idéias, Orsini cita Andreas Capellanus: "O amor rouba seu nome da palavra gancho (amus) que significa capturar ou ser capturado, pois aquele que ama foi capturado na malha do desejo e aspira do mesmo modo a capturar alguém. Tal como o hábil pescador busca atrair peixes com sua isca e capturá-los com envergado anzol,da mesma forma o homem que prisioneiro do amor tenta atrair o objeto de sua afeição com seduções e empenha todo o seu ânimo na união de dois distintos corações com indissolúvel laço, ou então, se os vê já reunidos, envida esforços em mantê-los assim para sempre".
Entende-se, dessa forma, que a própria noção de amor, a partir dos possíveis étimos, abre perspectiva para várias nuances significativas.
No amor há tipologia,são as várias formas através das quais o amor se expressa.Em Latim, é possível perceber o fenômeno amoroso se manifestando de quatro formas : a) "amor" o amor propriamente dito, b)"cupidu" o amor desejo,amor ardente c) "dilectio" o amor zelo,amor cuidado,amor escolha, d)" caritas" o amor ternura.
No Grego, a manifestação amorosa tem cinco aspectos, cada um com uma riqueza e sutilidade de significado, ei-los: a) "páthos" o amor desejo, b) "éros" o amor sensual, c) "stérgethron" amor paternal, d) "philia" amor amizade e) "agápe" amor ternura.
No arremate da tipologia amorosa, eis as quatro maneiras de amar proposta pelo filósofo Pseudo-Dionísio Areopagita : "...as coisas inferiores amam as coisas superiores voltando-se para estas; que as iguais amam as iguais comungando com estas; que as superiores amam as inferiores provendo-as , e que cada qual ama a si mesma conservando-se"
Essa visão racional do fato amoroso proporciona uma compreensão das várias facetas da dimensão mais profunda do ser humano e das coisas que estão ao seu redor, dando-lhe consciência do que ocorre em si mesmo.

A qualidade necessária

Neri de Paula Carneiro
Filósofo, teólogo, historiador
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Não podemos permanecer apenas nos reunindo e falando sobre os problemas. É necessá-rio refletirmos sobre a nossa pratica de professores, que alguns chamam de educadores. É preciso analisar o que queremos com o nosso SER PROFESSOR. O que nos leva a ser o que somos? Ou não somos o que dizemos ser?
Primeiramente precisamos nos lembrar que não somos apenas profissionais de educa-ção, mas colaboradores num processo de formação de homens e mulheres. Somos co-responsáveis pelo futuro de jovens que diariamente param à nossa frente para nos ouvir. Mas pecamos contra esse futuro quando queremos que apenas nos ouçam. Como professores, pre-cisamos falar, pois professor é aquele que “pro-fere” (fala diante de). E se supõe que quem se propõe a falar diante de uma classe de alunos tenha algo que professar É inconcebível um professor que não tenha conhecimentos a serem partilhados. Assim sendo, se não tens o que dizer não se faça professor!
Por outro lado, e para podermos direcionar o nosso “professar” precisamos, também, sa-ber ouvir o que dizem os alunos. Não é redundância lembrar que uma das acepções do vocá-bulo latino, aluno, significa “sem luz” e, portanto, receptivo à luz da fala daquele que se colo-ca à sua frente, o professor; o aluno é aquele que se coloca na posição de quem aprende. Isso implica dizer, também, que o próprio professor é um aprendiz, ou não é professor!
Daí vem o segundo ponto de reflexões, não menos importante que o primeiro. Como professores não somos senhores absolutos da verdade. Temos muito que ensinar – ou não se-riamos professores. Mas com qual metodologia? Precisamos, portanto, rever nossa mentalida-de, nossas posturas, para evitarmos o risco de nos considerarmos semi-deuses e subirmos em um pedestal de onde os alunos (os sem luz) virão nos adorar e beber da fonte do nosso saber. Reformular nossa maneira de pensar significa nos fazermos acessíveis aos nossos alunos. A-cessíveis não só ao nível da linguagem (falar e explicar de forma clara), mas principalmente como amigos. O processo do ensino aprendizagem não é uma guerra em que vence o que tem maior poder de fogo, mas uma relação de complementaridade em que o professor se comple-menta no aluno (só é possível falar a alguém quando tem alguém para ouvir!) e o alunos se complementam no saber do professor (só pode ser aprendiz quem não sabe, pois aquele que já sabe já aprendeu!)
E assim chegarmos a um terceiro ponto de reflexão. Algo que é fundamental em nossa ação neste caminho de amizade. Não entramos em uma sala de aula APENAS pelo salário (Exigimos remuneração condigna, mas isso não é tudo!). Da mesma forma que um médico que trabalhasse apenas pelos seus honorários seria um assassino, o professor que assim proce-desse seria mercenário. Da mesma forma que é inconcebível a prática de um médico que não queira, urgentemente, a cura de seu paciente, é impensável o professor que não deseje a a-prendizagem de seu aluno. E justamente por isso é que precisamos ser exigentes. Exigir que nossos amigos (alunos) saiam da escola sabendo aquilo que ensinamos. Não podemos permitir que nossos alunos tornem-se profissionais medíocres porque fomos relapsos ao ensinar. Te-mos que ensinar, portanto, com a qualidade de exigir qualidade de aprendizado. Havendo a-prendizagem acontece, conseqüentemente, aprovação.
Neste ponto reside a grande questão. Como professores, como amigos e como profissio-nais que prezamos nossa ação de ensino, não podemos consentir um sistema escolar que privi-legia as estatísticas. Temos visto nosso país representando um feio papel diante dos organis-mos internacionais. A quê se deve isso? Às políticas das estatísticas: inconcebivelmente nós professores cedemos às políticas que desejam altos índices de aprovação, mas não cobram altíssimos índices de aprendizagem. Somos obrigados a ceder às pressões que nos fazem nos finais de bimestres, de semestres, de ano letivo, quando nos cobram índices de aprovação sem nos cobrar aprendizagem! Com aprendizagem há aprovação, mas a política dos índices de aprovação não está preocupada com a aprendizagem.
Prova isso o fato de que tempos atrás a “média” para aprovação era sete. A necessidade de altos índices de aprovação abaixou a média para seis.
Por esse motivo vemos alunos serem aprovados sem conhecimento. Chegam e saem das escolas, analfabetos. Não porque não haja trabalho do professor, mas porque existe um siste-ma malformado, mal intencionado. Levantem as mãos, os professores, sérios naquilo que fa-zem, que nunca tenham sido, de alguma forma pressionados para aumentar seu “índice de aprovação”. Qual professor que nunca ouviu, depois de uma reunião de “conselho de classe”, comentários como: “seus alunos estão com nota muito baixa, professor”, ou “mas todos esses não alcançaram a média?”. Evidenciando que existe preocupação em alcançar a média e não com a aprendizagem, pois, repetindo, quem aprende tem nota, até acima da média. Não po-demos nos esquecer que a média é medíocre.
Podemos assim voltar à questão: o que queremos com nosso ser professor? Como anda nossa capacidade de ouvir as aspirações de nossos alunos? Estamos buscando novos conhe-cimentos, mantendo-nos atualizados? Ou nos acomodamos na aprovação mediana exigida pelo sistema que só quer estatísticas? Com que metodologia ensinamos? Para onde estamos conduzindo nossos alunos?
Não nos esqueçamos que a dimensão educativa da ação do professor depende do que se chama ensino-aprendizagem. É por meio dela é que atingiremos a qualidade necessária.