Correr mais
O colega Aristóteles, (sec
IVaC), afirmou que o se humano é um ser social. Quer dizer, uma das
formas que o ser humano tem para humanizar-se é a vida em sociedade.
Entretanto, atualmente, as coisas
mudaram. Nos dias atuais temos a impressão de que é necessário
pisar nos concidadãos para ter sucesso. O individualismo, o egoísmo,
a enganação e não a vida social são os novos valores. E até as
amizades têm um preço: vantagem pessoal.
Esse individualismo ocorre tanto
em nível pessoal como profissional e econômico. Talvez por esse
motivo a solidariedade deixou de ser um valor para converter-se em
mais um meio de vida. Muitas pessoas e instituições vivem de ganhar
dinheiro explorando o espírito solidário que existe nas pessoas. Ou
você acha que essas campanhas da grande mídia em favor de
hospitais, de crianças ou de vítimas de algum grande desastre é
feita gratuitamente?
Não! Definitivamente não! As
pessoas não fazem nada apenas para ajudar o outro. Podem até
ajudar, mas pensando em alguma vantagem. E se é para tirar vantagens
não é solidariedade nem ajuda. É a chance de explorar, é mais uma
oportunidade!
Isso nos leva aos amigos daquela
historinha que teria ocorrida numa região da África. Diz a
história, uma espécie de piada:
“Dois amigos divertiam-se
nas savanas africanas quando se perderam. E, de repente, viram-se
diante de um leão, aparentemente faminto.
Passado o primeiro instante de
pavor, um deles começou a preparar-se para correr. Tirou as botas de
safári e calçou um tênis, leve e próprio para corrida.
O outro, vendo aquilo
perguntou:
- O que você está fazendo?
Por acaso pensa que poderá correr mais do que o leão?
- Não! Não quero correr mais
do que o leão. Só tenho que correr mais que você”
Essa historinha parece ser é só
mais uma piada. Só mais uma história. Só mais uma forma de dizer
como é a nossa sociedade. Mas notemos que o amigo de tênis não se
preocupou nem um instante em ser solidário. Não se deteve em buscar
uma solução – urgente – para salvar ambos. Traçou,
rapidamente, uma estratégia para atingir a vitória. Mas a sua
estratégia exigia que sacrificasse o amigo. Raciocinou assim: “se
eu correr mais que você o leão te pega e eu escapo!” Isso
acontece diariamente nas relações sociais e profissionais!
Para reforçar essa constatação
da sociedade individualista e egocêntrica, podemos nos lembrar de
alguns versos de músicas que marcaram pelo comentário sobre a
sociedade: O grupo RPM que nos anos 1980 contou “Alvorada
Voraz”. Numa das
estrofes denuncia a corrupção: “nesse
pais, é o dinheiro quem manda/ Juram que não corrompem ninguém,
agem assim/ Pro seu próprio bem”.
E no refrão denuncia a conivência da sociedade em relação aos
corruptos: “e eu, /
nesse mundo assim, vendo esse filme passar,/ assistindo ao fim, vendo
o meu tempo passar”.
Quer dizer: sabemos das mazelas sociais, mas assistimos a tudo como a
um filme. Ou seja: divertindo-nos! E, a maioria de nós, também
querendo tirar vantagem.
Também Max Gonzaga, na música
“Classe média”
canta o descompromisso com o outro e a indiferença em relação a
tudo que acontece: “Porque
eu não "to nem ai"/ Se o traficante é quem manda na
favela / Eu não "to nem aqui" / Se morre gente ou tem
enchente em Itaquera /Eu quero é que se exploda a periferia toda /
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta”
O que isso indica? Que nossa
sociedade apodreceu. Não nos importamos com ninguém a não ser nós
mesmos. Nem mesmo a família acredita em si para defender ou
transmitir valores. Não são poucos os pais que confessam sua
incompetência e descompromisso com os filhos, abandonando-os em
alguma escola, dizendo: “dá
um jeito em meu filho que já não sei mais o que fazer com ele”.
A constatação é simples:
estamos correndo; e queremos correr mais pensando que vamos chegar na
frente, mas na verdade estamos indo direto para a boca do leão.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filosofo,
teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
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