13 de fev. de 2008

A qualidade necessária

Neri de Paula Carneiro
Filósofo, teólogo, historiador
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Não podemos permanecer apenas nos reunindo e falando sobre os problemas. É necessá-rio refletirmos sobre a nossa pratica de professores, que alguns chamam de educadores. É preciso analisar o que queremos com o nosso SER PROFESSOR. O que nos leva a ser o que somos? Ou não somos o que dizemos ser?
Primeiramente precisamos nos lembrar que não somos apenas profissionais de educa-ção, mas colaboradores num processo de formação de homens e mulheres. Somos co-responsáveis pelo futuro de jovens que diariamente param à nossa frente para nos ouvir. Mas pecamos contra esse futuro quando queremos que apenas nos ouçam. Como professores, pre-cisamos falar, pois professor é aquele que “pro-fere” (fala diante de). E se supõe que quem se propõe a falar diante de uma classe de alunos tenha algo que professar É inconcebível um professor que não tenha conhecimentos a serem partilhados. Assim sendo, se não tens o que dizer não se faça professor!
Por outro lado, e para podermos direcionar o nosso “professar” precisamos, também, sa-ber ouvir o que dizem os alunos. Não é redundância lembrar que uma das acepções do vocá-bulo latino, aluno, significa “sem luz” e, portanto, receptivo à luz da fala daquele que se colo-ca à sua frente, o professor; o aluno é aquele que se coloca na posição de quem aprende. Isso implica dizer, também, que o próprio professor é um aprendiz, ou não é professor!
Daí vem o segundo ponto de reflexões, não menos importante que o primeiro. Como professores não somos senhores absolutos da verdade. Temos muito que ensinar – ou não se-riamos professores. Mas com qual metodologia? Precisamos, portanto, rever nossa mentalida-de, nossas posturas, para evitarmos o risco de nos considerarmos semi-deuses e subirmos em um pedestal de onde os alunos (os sem luz) virão nos adorar e beber da fonte do nosso saber. Reformular nossa maneira de pensar significa nos fazermos acessíveis aos nossos alunos. A-cessíveis não só ao nível da linguagem (falar e explicar de forma clara), mas principalmente como amigos. O processo do ensino aprendizagem não é uma guerra em que vence o que tem maior poder de fogo, mas uma relação de complementaridade em que o professor se comple-menta no aluno (só é possível falar a alguém quando tem alguém para ouvir!) e o alunos se complementam no saber do professor (só pode ser aprendiz quem não sabe, pois aquele que já sabe já aprendeu!)
E assim chegarmos a um terceiro ponto de reflexão. Algo que é fundamental em nossa ação neste caminho de amizade. Não entramos em uma sala de aula APENAS pelo salário (Exigimos remuneração condigna, mas isso não é tudo!). Da mesma forma que um médico que trabalhasse apenas pelos seus honorários seria um assassino, o professor que assim proce-desse seria mercenário. Da mesma forma que é inconcebível a prática de um médico que não queira, urgentemente, a cura de seu paciente, é impensável o professor que não deseje a a-prendizagem de seu aluno. E justamente por isso é que precisamos ser exigentes. Exigir que nossos amigos (alunos) saiam da escola sabendo aquilo que ensinamos. Não podemos permitir que nossos alunos tornem-se profissionais medíocres porque fomos relapsos ao ensinar. Te-mos que ensinar, portanto, com a qualidade de exigir qualidade de aprendizado. Havendo a-prendizagem acontece, conseqüentemente, aprovação.
Neste ponto reside a grande questão. Como professores, como amigos e como profissio-nais que prezamos nossa ação de ensino, não podemos consentir um sistema escolar que privi-legia as estatísticas. Temos visto nosso país representando um feio papel diante dos organis-mos internacionais. A quê se deve isso? Às políticas das estatísticas: inconcebivelmente nós professores cedemos às políticas que desejam altos índices de aprovação, mas não cobram altíssimos índices de aprendizagem. Somos obrigados a ceder às pressões que nos fazem nos finais de bimestres, de semestres, de ano letivo, quando nos cobram índices de aprovação sem nos cobrar aprendizagem! Com aprendizagem há aprovação, mas a política dos índices de aprovação não está preocupada com a aprendizagem.
Prova isso o fato de que tempos atrás a “média” para aprovação era sete. A necessidade de altos índices de aprovação abaixou a média para seis.
Por esse motivo vemos alunos serem aprovados sem conhecimento. Chegam e saem das escolas, analfabetos. Não porque não haja trabalho do professor, mas porque existe um siste-ma malformado, mal intencionado. Levantem as mãos, os professores, sérios naquilo que fa-zem, que nunca tenham sido, de alguma forma pressionados para aumentar seu “índice de aprovação”. Qual professor que nunca ouviu, depois de uma reunião de “conselho de classe”, comentários como: “seus alunos estão com nota muito baixa, professor”, ou “mas todos esses não alcançaram a média?”. Evidenciando que existe preocupação em alcançar a média e não com a aprendizagem, pois, repetindo, quem aprende tem nota, até acima da média. Não po-demos nos esquecer que a média é medíocre.
Podemos assim voltar à questão: o que queremos com nosso ser professor? Como anda nossa capacidade de ouvir as aspirações de nossos alunos? Estamos buscando novos conhe-cimentos, mantendo-nos atualizados? Ou nos acomodamos na aprovação mediana exigida pelo sistema que só quer estatísticas? Com que metodologia ensinamos? Para onde estamos conduzindo nossos alunos?
Não nos esqueçamos que a dimensão educativa da ação do professor depende do que se chama ensino-aprendizagem. É por meio dela é que atingiremos a qualidade necessária.

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