18 de ago. de 2016

Tempos atuais


Tempos atuais
Já estamos acostumados a ouvir e repetir esta afirmação: nosso mundo está em crise. Por isso um discurso sobre crise não é nem possui novidade.
Novidade, em se falando sobre crises, está no fato de que ninguém está imune a ela. Feito gripe, ela nos atinge a todos. E não se trata de crise local ou regional: é o mundo que está em crise.
Mas, aí alguém pode perguntar: Em que consiste essa crise? Onde ela nos atinge?
Seu impacto sobre nós, é como a percebemos. Ou seja, ela se manifesta de diversas formas: na economia, na política, nas relações sociais... Como se trata de uma crise generalizada, ela nos atinge em todos os níveis e todos os níveis estão entrelaçados. Trata-se, portanto, de uma crise em rede. Dela não há escapatória, estamos enredados na mesma teia.
E quando escapamos de um tentáculo outro nos alcança, feito língua de sapo engolindo mariposa atraída pela luz da desorientação.
O problema da crise do mundo não é onde ela nos atinge, mas a sua origem. Ela nos atinge a partir e por causa de sua origem. E a origem da crise está nos valores vigentes. Vivemos uma crise de valores por isso sua manifestação ocorre na forma de uma crise Ética.
Retomemos, portanto a afirmação: Os tempos atuais são tempos de crise porque vivemos uma crise de ética. Uma crise ética que se manifesta na forma de inversão de valores; de substituição de valores; de redefinição de valores: valem as coisas e as pessoas não valem nada. Importa a lei e não a justiça; importa o preço da consulta e não a cura do enfermo; importa o poder político e não o serviço ao público. Dilata-se o valor atribuído àquilo que possuímos, àquilo que pode ser mostrado, às aparências, na mesma proporção em que o ser humano é minimizado e aviltado, esquecido, agredido.
Como podemos perceber isso? Um exemplo dessa situação é o quadro político brasileiro deste início de 2016. Assistimos ao afastamento da representante do executivo num processo organizado pelo legislativo. Algo que não tem nada de anormal, não fosse a conjuntura em que o fato se deu: o executivo afastado sob acusação de crime, mas muitos daqueles que votaram pelo afastamento são acusados no mesmo esquema criminoso. E isso nos obriga a perguntar: o processo de afastamento foi apresentado em nome da decência, da moralidade, da justiça, da democracia, do bem estar coletivo, social e nacional ou foi orquestrado apenas para satisfazer interesses de grupos alijados do poder?
Se o afastamento, mesmo que tenha havido o crime, não foi feito em nome da sociedade e da justiça, mas em nome de interesses particulares há que se questionar a eticidade do fato. Admitindo isso, somos levados a concluir que se não houvesse interesse particular, mesmo havendo crime, não haveria o afastamento e, portanto, o interesse do povo e a justiça não seriam atendidos.
E, se é para moralizar os atos políticos, o mesmo critério e as mesmas denúncias que foram imputados à ex-presidente devem, por imperativo moral, ser aplicados aos governadores, prefeitos... pois, cada um em seu nível de atuação, comete as mesmas irregularidades.
Além disso, os demais envolvidos e acusados do mesmo crime da ex-presidente, precisam ser investigados e levados a julgamento. Caso contrário permanecerá apenas um jogo de cena, para satisfazer interesses particulares; apenas se executará um “boi de piranha” para que os tubarões continuem engordando engolindo a nação.
Assim a política (que poderia ser entendida como a ética da polis ou da vida em grupo) acaba se convertendo em uma arena em que vence quem é mais ardiloso e é trucidado aqueles que têm menor jogo de cintura. Nisso tudo se observa o que estamos chamando de inversão de valores. Ou, em alguns casos, supressão de valores. É a manifestação da crise do mundo atual: crise ética que provoca a crise social, econômica, política...
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filosofo, teólogo, historiador
Rolim de Mora - RO

Prova de fé


Prova de fé
Na Idade Média nasceu uma expressão dizendo que a filosofia é serva da teologia. Para teólogos e filósofos medievais a filosofia ajudava a esclarecer a fé.
Hoje sabemos que, se existiu esse casamento, os cônjuges estão divorciados e cada um segue seu destino. A filosofia com suas indagações, preocupações e afazeres e a teologia continua justificando as práticas religiosas. Vez por outra se encontram na discussão e esclarecimento de algum tema espinhoso. É o caso da discussão atual sobre a fé.
Sabemos que a filosofia se detém sobre o conhecimento racional e que pode ser sustentado por argumentos racionais, lógicos e, consequentemente, coerentes. Sabemos que a teologia continua apresentando novos e mais profundos elementos que justifiquem os atos de fé, que esclareçam as posturas dos crentes.
Mas, nem a filosofia nem a teologia se ocupam com a produção da fé. As pessoas têm fé ou não. Tendo ou não, a filosofia se ocupa em explicar as implicações disso. Entretanto a finalidade não é aumentar ou ridicularizar a fé ou a crença de quem a possui. O que a filosofia se propõe é desafiar aquele que crê a justificar sua crença, a fundamentar seu ato de fé. Talvez para ajudar a evitar que o crente se deixe enganar por espertalhões que, sabemos de sua existência, aproveitam da singeleza e honestidade dos crédulos para tirar vantagens, principalmente financeiras. E, nesse ponto filosofia e teologia acabam se juntando, pois a função da segunda, como ciência do sagrado e das práticas religiosas, relaciona-se com o esclarecimento dos fundamentos da fé: Em que consiste? Como se manifesta? Quais são as posturas condizentes? Quais as repercussões da fé na vida cotidiana... mas sem a preocupação de fazer com que a pessoa acredite ou deixe de acreditar. A fé, dizem os teólogos é um dom, portanto independe do agraciado: ele simplesmente tem fé, que pode ser mais esclarecida em seus fundamentos.
Isso implica dizer que, tanto para a filosofia como para a teologia a fé refere-se a um ato que dispensa explicação. E isso por uma razão simples: se a fé for explicada deixa de ser fé, perde sua razão de ser. Portanto, hoje não se justifica a discussão patrística e medieval entre fé e razão. A fé (teologia) e a razão (filosofia) possuem objetos e objetivos distintos, embora se possam ajudar mutuamente, mas cada uma em seu campo específico de ação.
Disse isso tudo com dois objetivos: questionar algumas posturas de pregadores que anunciam milagres como elemento essencial para que alguém creia. Mas se a atitude de fé depende do milagre, que é uma demonstração, deixa de ser fé pois foi comprovada. O milagre portanto é uma prova. E se alguém depende da prova para ter fé, no momento em que for provado, não precisa mais de fé, pois a evidência da prova se impõe por si mesma.
E isso nos leva ao segundo objetivo: comentar a postura de Tomé e dos demais discípulos que viram o “mestre” após a ressurreição pascal. Jesus se manifesta aos apóstolos reunidos e amedrontados e lhes confere uma missão: anunciar ao mundo que ele havia ressuscitado. A aparição não tinha a finalidade de produzir fé, mas de conferir uma missão. Ausente, Tomé pede uma prova para crer. Quando o ressuscitado se apresenta diz ao incrédulo: “bem aventurados os que creram sem ter visto”.
Essa é a nossa questão: se a fé depende de comprovação ou dos milagres, é porque não existe fé e não existirá; se determinada igreja (por meio de suas lideranças) faz questão de usar os milagres para produzir fé... é bom tomar cuidado, pois pode ser que ali exista algum charlatão querendo ludibriar as pessoas.
Portanto é bom tomar cuidado com aqueles ajuntamentos de pessoas que fazem eloquentes discursos convidando a assistir alguma cura miraculosa. Não que não ocorram os milagres, mas não como prova do transcendente. O milagre é uma prova e a prova elimina a fé. E se alguma igreja insiste no milagre como pré-requisito da fé, desacredite dela, pois pode estar querendo apenas te ludibriar.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Correr mais


Correr mais
O colega Aristóteles, (sec IVaC), afirmou que o se humano é um ser social. Quer dizer, uma das formas que o ser humano tem para humanizar-se é a vida em sociedade.
Entretanto, atualmente, as coisas mudaram. Nos dias atuais temos a impressão de que é necessário pisar nos concidadãos para ter sucesso. O individualismo, o egoísmo, a enganação e não a vida social são os novos valores. E até as amizades têm um preço: vantagem pessoal.
Esse individualismo ocorre tanto em nível pessoal como profissional e econômico. Talvez por esse motivo a solidariedade deixou de ser um valor para converter-se em mais um meio de vida. Muitas pessoas e instituições vivem de ganhar dinheiro explorando o espírito solidário que existe nas pessoas. Ou você acha que essas campanhas da grande mídia em favor de hospitais, de crianças ou de vítimas de algum grande desastre é feita gratuitamente?
Não! Definitivamente não! As pessoas não fazem nada apenas para ajudar o outro. Podem até ajudar, mas pensando em alguma vantagem. E se é para tirar vantagens não é solidariedade nem ajuda. É a chance de explorar, é mais uma oportunidade!
Isso nos leva aos amigos daquela historinha que teria ocorrida numa região da África. Diz a história, uma espécie de piada:
Dois amigos divertiam-se nas savanas africanas quando se perderam. E, de repente, viram-se diante de um leão, aparentemente faminto.
Passado o primeiro instante de pavor, um deles começou a preparar-se para correr. Tirou as botas de safári e calçou um tênis, leve e próprio para corrida.
O outro, vendo aquilo perguntou:
- O que você está fazendo? Por acaso pensa que poderá correr mais do que o leão?
- Não! Não quero correr mais do que o leão. Só tenho que correr mais que você”
Essa historinha parece ser é só mais uma piada. Só mais uma história. Só mais uma forma de dizer como é a nossa sociedade. Mas notemos que o amigo de tênis não se preocupou nem um instante em ser solidário. Não se deteve em buscar uma solução – urgente – para salvar ambos. Traçou, rapidamente, uma estratégia para atingir a vitória. Mas a sua estratégia exigia que sacrificasse o amigo. Raciocinou assim: “se eu correr mais que você o leão te pega e eu escapo!” Isso acontece diariamente nas relações sociais e profissionais!
Para reforçar essa constatação da sociedade individualista e egocêntrica, podemos nos lembrar de alguns versos de músicas que marcaram pelo comentário sobre a sociedade: O grupo RPM que nos anos 1980 contou “Alvorada Voraz”. Numa das estrofes denuncia a corrupção: “nesse pais, é o dinheiro quem manda/ Juram que não corrompem ninguém, agem assim/ Pro seu próprio bem”. E no refrão denuncia a conivência da sociedade em relação aos corruptos: “e eu, / nesse mundo assim, vendo esse filme passar,/ assistindo ao fim, vendo o meu tempo passar”. Quer dizer: sabemos das mazelas sociais, mas assistimos a tudo como a um filme. Ou seja: divertindo-nos! E, a maioria de nós, também querendo tirar vantagem.
Também Max Gonzaga, na música “Classe média” canta o descompromisso com o outro e a indiferença em relação a tudo que acontece: “Porque eu não "to nem ai"/ Se o traficante é quem manda na favela / Eu não "to nem aqui" / Se morre gente ou tem enchente em Itaquera /Eu quero é que se exploda a periferia toda / Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta”
O que isso indica? Que nossa sociedade apodreceu. Não nos importamos com ninguém a não ser nós mesmos. Nem mesmo a família acredita em si para defender ou transmitir valores. Não são poucos os pais que confessam sua incompetência e descompromisso com os filhos, abandonando-os em alguma escola, dizendo: “dá um jeito em meu filho que já não sei mais o que fazer com ele”.
A constatação é simples: estamos correndo; e queremos correr mais pensando que vamos chegar na frente, mas na verdade estamos indo direto para a boca do leão.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filosofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Questão de ética


Questão de ética
Já nos acostumamos a falar que os políticos de nosso país são corruptos. Dizemos, também, que o povo brasileiro é tão corrupto quanto os políticos contra os quais esbraveja.
Alguns teóricos, ao analisar o comportamento da população, falam em dupla moral: um comportamento para a vida pública pelo qual as pessoas, quase ostensivamente, cumprem as regras e normas e todos os princípios da moral socialmente aceita. E outro comportamento para o âmbito particular e privado, pelo qual o indivíduo age pensando apenas nos seus interesses particulares, desrespeitando toda e qualquer norma e convenção estabelecida pela sociedade.
Nesse ponto recordo-me da seguinte historia que fala de uma pescaria inesquecível, propondo uma reflexão sobre retidão moral.
Pai e filho foram pecar no lago, próximo de onde viviam. Sabiam que a temporada de pesca só começaria no dia seguinte. Pescariam, portanto, apenas o que a lei permitia.
Lançaram seus anzóis e, mais do que pescar, contemplavam a natureza e o luar que prateava as águas.
De repente o menino percebeu havia pescado algo. Depois de logo tempo conseguiu erguer o anzol onde ainda se debatia um enorme peixe. Mas era um daqueles peixes que só poderiam ser pescados depois de iniciada a temporada de pesca.
Admiravam o peixe quando o pai olhou para o relógio: ainda faltavam duas horas para a meia noite, quando oficialmente começaria a temporada. Abraçando o filho, disse:
- Você tem que devolvê-lo às águas, filho!
- Mas, papai.... – reclamou o menino.
- Vai aparecer outro – insistiu o pai.
- Não tão grande quanto este – choramingou a criança.
O garoto olhou à volta. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista. Novamente olhou para o pai. Não havia testemunhas. Mas a firmeza da voz do pai indicava que se tratava de uma inegociável. Tirou o peixe do anzol e o devolveu às águas.
Novamente em seu mundo, o peixe fez um rápido movimento, desapareceu. O menino sabia que nunca mais o veria.
Os anos se passaram e o menino, agora adulto, leva seus filhos para pescar no mesmo lago, sempre dentro da temporada permitida. Mas nem ele nem seus filhos jamais conseguiram pescar novamente aquele enorme peixe. E ainda hoje, quando reconta sua história a seus filhos, acrescenta a lição inesquecível, ensinada pelo pai: fazer o que é certo não porque tem alguém olhando, mas porque é o correto a fazer”.
Esta historinha nos propõe refletirmos sobre um princípio da ética e do comportamento moral: fazer o que deve ser feito. Esse é um imperativo moral. Deixar de fazer o que é necessário que se faça é uma afronta à moral. É um erro fatal para com a vida social.
Por qual motivo deve-se fazer o que tem que ser feito? Apenas porque é a coisa certa. É necessário fazer o que é certo não porque tem alguém vendo ou testemunhando, mas porque é a coisa certa a fazer. Isso significa que fazer a coisa certa porque tem alguém observando não é o correto, pois, nesse caso, não se está fazendo o que se tem que fazer, mas o que a testemunha quer ver. O ato está sendo realizado não porque possui um valor mas porque sua realização renderá um elogio, uma aprovação, um reconhecimento, um benefício pessoal.
O menino da nossa história queria isso: não o benefício de ficar com o peixe, mas de poder ficar com o peixe que ainda não podia ser pescado. Não queria o peixe, mas fazer o que não podia ser feito.
Parece-nos que este é um dos grandes problemas de nosso país. É o nosso problema: Nós e os políticos queremos as vantagens e não os valores. Queremos os benefícios e não fazer o que tem que ser feito.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filosofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO

Política: coisa da besta?


Política: coisa da besta?
Não tente ver uma conotação religiosa neste titulo. Trata-se de uma indagação sobre a essência humana. Ou seja, queremos saber o que faz do ser humano, um ser humano.
Como entender isso? Vejamos!
Certamente já ouvimos e lemos alguma coisa sobre um grande pensador da Grécia Antiga: Aristóteles. Entre outras coisas ele escreveu um livro sobre política, cujo título é, justamente: “Política”.
Nesse livro apresenta uma das mais antigas caracterizações do homem: de que somos seres sociais. Logo no primeiro capítulo diz, que: “o homem é naturalmente feito para a sociedade política”. Quer dizer, o homem existe porque vive em sociedade, em grupo. E este é nosso problema: a vida social depende de decisões políticas, ou seja: regras de convivência.
Caso parássemos aqui, na afirmação da natureza política, tudo estaria resolvido. Mas nosso problema vai além. Nosso problema está na construção do grupo, pois para viver em grupo o homem depende de regras de convivência. E a construção dessas regras é um processo e decorre de uma ação política.
Como, então, entender isso que chamamos de política? Não a confundamos com as malandragens que se institucionalizou naquilo que hoje chamamos de política. Na realidade deve-se entender a política como a negociação que os indivíduos fazem para estabelecer as normas para viver em grupo. Não importa se esse grupo seja de duas pessoas ou de milhares. Havendo um grupo manifesta-se a necessidade das regras de convivência.
E aqui é que se impõe nosso problema. Antes de viver em grupo, tomamos a decisão de viver em grupo. E, por qual motivo nos agrupamos? Por que temos necessidade que só suprimos quando nos juntamos a outros que tem o mesmo problema. Então juntos, solucionamos o problema que é comum. Isso significa que o grupo é decorrência de nossa necessidade de defender ou fazer valer nossos interesses. Ou seja, vivemos em grupo porque temos interesses a defender.
Vejamos o que disse nosso amigo Aristóteles, no livro “Política” a respeito desse conflito de interesses: “Quando se reclama a soberania da lei, reclama-se o império da divindade e da razão. Porém quem deseja que o homem governe, de certa forma, também deseja por uma besta selvagem no governo
Como podemos entender isso?
A primeira parte da afirmação refere-se ao que todos nós queremos: a lei, pois queremos viver em paz e ordenadamente. Esse é nosso desejo e aspiração racional. É o que queremos. E dizemos que o grupo social existe para organizar e defender essa convivência (com-vivência)
Entretanto para chegar ao que queremos precisamos passar pelo processo da construção do que queremos. E neste ponto afloram todos os tipos de conflitos e interesses. Deixamos de agir com a razão para defender os nossos interesses; e nisso se manifesta nossa animalidade. Animalidade que se expressa como uma “besta selvagem” que assume o governo.
Isso é o que vem acontecendo ao longo da história da humanidade. São milhares de anos de história em que a com-vivência, que deveria ser o objetivo do grupo e da política, deixa de ser o objetivo para que, sobre ele, se imponha o interesse particular. É quando não mais a razão e lei prevalecem, mas a “besta selvagem”. E isso não foi inventado por este ou aquele partido da atualidade, mas vem se impondo ao longo dos milênios.
E hoje, dizer que este ou aquele partido que eventualmente esteja no governo é corrupto ou está roubando, é o mesmo que confessar ignorância, esquecer que há uma animalidade em nós ou, pior ainda, é porque fazemos parte do grupo que deseja tirar aquele que hoje está roubando para entrar em seu lugar e roubar também! É a besta selvagem que está falando!
Neri de Paula Carneiro
mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Aula de vida


Aula de vida
Vamos comentar alguns aspectos da vida, da política, da sociedade, enfim, sobre a existência humana. E, para começar quero te convidar a uma reflexão sobre alguns de nossos posicionamentos em relação à vida e aos valores que prezamos.
Ou seja, vamos nos perguntar: o que vale a vida, para nós? A quê damos importância?
E, para isso, vou me valer de uma mensagem que circula pela Internet.
Eu a recebi há pouco tempo atrás, por e.mail. Por e.mail porque não aprendi a cultivar facebook ou wathc zap
A mensagem diz o seguinte:
Um professor, numa aula de filosofia, pegou um pote de vidro, grande e vazio, e em silêncio começou a enchê-lo com bolas de golfe. Em seguida, perguntou aos seus alunos:
- Vocês acham que o vidro está cheio?
Todos disseram que sim.
O pegou, então uma caixa com bolas de gude e a esvaziou dentro do pote. As bolas de gude encheram todos os vazios entre as bolas de golfe. O professor voltou a perguntar:
- E agora, o vidro está cheio?
Novamente os alunos disseram que sim.
Em seguida, pegou uma caixa com areia e a despejou dentro do pote. A areia preencheu os espaços vazios que ainda restavam e ele comentou com os alunos.
- Vocês, certamente me dirão que agora o vidro está cheio!
Entre risinhos incrédulos e sem entender bem as coisas os alunos disseram que sim, que agora o pote estava cheio.
Então o professor pegou um copo de café. Aparentemente para tomar, mas derramou o café sobre o pote, umedecendo a areia. Os estudantes riam da situação.
O professor olhou bem para os estudantes e então lhes disse:
- Gostaria que vocês entendessem o seguinte:
* O pote de vidro representa nossas vidas.
* As bolas de golfe, são as coisas mais importantes, como Deus, a família, os filhos, os amigos. São realidades com as quais nossas vidas ficam repletas de felicidade.
* As bolas de gude são as outras coisas que importam: o trabalho, a casa bonita, o carro novo, etc.
* A areia representa todas as pequenas coisas; as vezes coisas insignificantes.
E aqui está a grande lição: caso tivéssemos colocado a areia em primeiro lugar, na pote de vidro, não haveria espaço para as bolas de golfe. O mesmo ocorre em nossas vidas. Se gastamos todo nosso tempo e energia com as pequenas coisas, nunca teremos lugar para as coisas realmente importantes. Prestem atenção nas coisas que são cruciais para a sua felicidade: Brinquem com seus filhos e amigos, saiam para se divertir em família, dediquem um pouco de tempo a vocês mesmos, tenham fé em algo ou em alguém, pratiquem seu esporte favorito. Sempre haverá tempo para as outras coisas, mas ocupem-se das bolas de golfe em primeiro lugar. O resto é apenas areia...
Num breve instante de silêncio, um aluno se levantou e perguntou o que representava o café. O mestre sorriu e lhe respondeu:
- Que bom que você me perguntou isso, pois o café serve apenas para demonstrar que não importa quão ocupada esteja nossa vida. Sempre haverá lugar para tomar um café com um amigo”
Creio que esta historinha, que pode ser recontada das mais diferentes formas, nos convida à mesma reflexão, cobrando o mesmo posicionamento: trata-se de um convite a rever – ou reforçar – nossos valores.
É comum supervalorizarmos pequenas coisas e por causa delas, muitas vezes, entramos em atrito com amigos ou pessoas de quem gostamos. É comum vermos rodas de amigos, onde não ocorre conversa e interação, pois todos estão concentrados na areia das redes sociais. É comum ouvirmos dizer que fulano de tal esta com depressão porque se sente sozinho, mas tem milhares de “amigos” ou de “seguidores” ou seja lá o nome que se dê a esse universo paralelo que, a cada dia mais, está sufocando as coisas importantes de nossa vida.
Com isso podemos voltar à indagação inicial: a quê damos importância? Para mim e para você: o que realmente importa?
Num grupo de amigos, preferimos contar piada e rir juntos ou nos isolamos na multidão? Usamos os nossos telefones celulares e outras tantas tecnologias para a comunicação ou para nos isolarmos? Preferimos apertar as teclas de um aparelho ou a mão de uma amigo?
A quê damos valor? Que valor tem a vida, para nós?

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

27 de jul. de 2016

“Professor só me deu”

Professor só me deu”
Nossa reflexão neste discurso tem a ver com o aprendizado e o comportamento do aprendiz em relação ao processo do aprender. Poderíamos dizer, também que se trata de uma reflexão sobre a falta de aprendizado que vem crescendo em nossas escolas.
E esta é uma reflexão que não se ocupa em julgar o estudante, mas em constatar um fato do qual, talvez, o estudante seja uma vítima... Mas a vítima fatal e em última instância é a própria sociedade que paga para ter o melhor e acaba recebendo os acidentes do processo!
A questão que desejamos refletir, neste momento, diz respeito a uma atitude que demonstra falta de aprendizado. Ela ocorre logo após alguma avaliação. Circunstância em que, invariavelmente, algum aluno procura o professor e, em tom de reclamação e recriminação, pergunta, afirma e acusa: “professor, só me deu isso de nota!?”
Para não dizer o que pensa e para não ser grosseiro o professor se cala. Mas lá no seu íntimo ele pensa – pensar ele pode: “Abestado, foi você e não eu quem fez a prova!” E vai adiante: “Se a nota foi essa é porque você não sabia mais”. Em acrescenta, ainda no íntimo do seu pensamento: “Eu não dei nota nenhuma. Ela é reflexo daquilo que você fez na prova. Se você acerta um número elevado de questões, a nota é alta, se acerta poucas questões a nota é baixa. Isso não depende do professor a quem só cabe ensinar. O aprendizado é do estudante. Se o estudante estuda, aprende e se aprende a nota vem como consequência. O professor, portanto, só elabora a prova e a corrige depois que ela foi respondida pelo estudante.”
Mas tudo isso fica só na cabeça do professor, pois se disser algo – mesmo que seja verdade – sua fala pode ser interpretada como grosseria, como resposta desrespeitosa ao aluno (lembrando que aluno significa “desprovido de luz” e nessa etimologia o professor é aquele que ajuda o estudante a se apropriar do lumem (luz) do saber.
Então repitamos: ao professor cabe ensinar; promover as condições de aprendizado – condições estas que, em muitos casos, é negada pela estrutura escolar/acadêmica e noutras vezes produzida pelos aluno. Mas ao estudante cabe estudar. Por incrível que pareça, por excelente que seja o professor, se não houver predisposição por parte do estuante, não haverá aprendizado e, consequentemente, não haverá boa nota.
Diferentemente do que ocorre no comércio onde o cliente compra um produto e deseja qualidade, no processo escolar isso não ocorre. O estudante que recebe as informações disponibilizadas pelo professor pode absorvê-las ou não. Se deseja e quando quer, aprende e tem boas notas – e se torna bom profissional! Mas, como ocorre em muitos casos, se o aluno é medíocre ou desinteressado, nada absorverá. E, o que é pior: dirá que o professor não lhe deu nota; em alguns casos os próprios pais cobrarão do professor – e não do aluno – uma melhor nota para o filho, sem cobrar do filho mais empenho no estudo!
Serão esses alunos e não os estudantes que, no final do bimestre ou do semestre, em tom choramingante dirão: “professor, você só me deu essa nota”. Ou então: “Professor, dá um pontinho! Se eu ficar com essa nota vou reprovar. Só um pontinho, professor!” E cada vez que vê o professor é a mesma cantilena lamuriosa: “Então, professor, vai me dar um pontinho?”
Claro que o professor que ouve a lamúria e não diz o que pensa. Mas pensa! Pensa mais ou menos o seguinte: “Como chegamos a esta situação? Se ele tivesse estudado não precisava mendigar nota.” E se lamenta: “Como pode alguém se humilhar a este ponto?”.
Pedir nota é uma confissão de incompetência. Aquele que precisa pedir nota não a merece, pois não foi capaz de consegui-la por si mesmo. E o fato de pedir nota significa que não está preocupado em estudar e aprender. Quer a nota para completar um requisito formal, mas não está preocupado com a postura ética pela qual pode dizer: “Fui aprovado pelos meus méritos” e não porque recebeu algumas migalhas de esmola!”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO

Aprendemos com eles

Aprendemos com eles
Quem é professor já ouviu este tipo de pergunta: onde vou usar isto?
Vamos começar, então por onde tudo começou.
Tudo começou numa aula de história no ensino fundamental. O assunto eram os povos antigos. Naquele momento não havia referência à filosofia, pois a temática era história. Mas a reflexão depois da aula mostrou a ligação do tema de história com uma filosofia do cotidiano. E a questão é: o mundo antigo continua se manifestando em nosso mundo?
A resposta é sim! Basta observarmos e veremos os retalhos daquilo que os antigos fizeram em alguns ecos dentro de nossa sociedade. São saberes que repercutem em nossa sociedade: O mundo antigo continua ecoando em nosso meio.
Vejamos alguns exemplos.
Vivemos em sociedade: muitos de nós um aglomerado ao qual chamamos de cidade. Como aprendemos isso? Possivelmente a partir dos mesopotâmicos. A vida urbana, até onde sabemos, desenvolveu-se lá. Não podemos precisar se foi este ou aquele povo que começou a primeira cidade, mas sabemos que elas agregaram as pessoas.
E por que as pessoas se agregaram num amontoado urbano? Para solucionar problemas.
Inúmeros problemas que seriam insolúveis ou mortais para os indivíduos, foram resolvidos pelo grupo: caso típico é o da segurança. O grupo oferece segurança ao indivíduo e os indivíduos se protegem mutuamente; segurança que não haveria se permanecessem isolados. A vida urbana, se por um lado trouxe soluções, por outro apresentou problemas: a disputa por território e, evidentemente, por alimento.
Com os problemas se avolumando foi necessário desenvolver mais alguns elementos que permaneceram e entraram em nosso uso cotidiano: as armas e a política, por exemplo. A necessidade de proteção do grupo exigiu a produção de armas e as guerras possibilitaram o desenvolvimento de tecnologias para a utilização dos metais.
Enquanto os agricultores usavam a metalurgia para fabricar arados e enxadas os soldados desenvolviam espadas...
A metalurgia se desenvolveu e está em nosso meio. Os metais são uma das artérias de nossa sociedade tecnológica. Para qualquer lado que olhemos, eles estão presentes. Nossa sociedade depende deles. Garfos e caminhões, relógios e microfones... tudo tem metal modificado: na forma de ferramenta, utensilio ou joias.
Outra coisa que os antigos inventaram foi a política. Consequência da cidade e dos atritos que surgem da vida urbana e social, a política foi criada para minimizar ou gerenciar os conflitos. Vários aspectos de nossa política foi organizada pelos gregos antigos. Eles não a criaram, mas dera-lhe um toque requintado.
Não só em relação aos conceitos da política, como democracia, por exemplo, mas também em relação à forma de fazer política: a arte de falar em público e a eloquência são criações dos sofistas que ensinavam retórica e oratória aos cidadãos atenienses para desenvolver a democracia ali existente.
Noutras situações os sacerdotes antigos olharam para os céus e falaram sobre seus deuses. Movidos pela fé ou pelo medo os antigos ampliaram os conhecimentos. Para isso precisaram compreender a dança das estrelas e a divisão do tempo: dias, meses, anos... e essas dimensões temporais e o seu significado acabou definindo nossa sociedade.
A noção de tempo, outra artéria fluindo o sangue frenético de nossa sociedade, nasceu naquele momento em que os antigos olharam para o céu em busca dos seus deuses.
E, em nossa sociedade, o tempo e os céus, antigos objetos de culto, viraram objeto de exploração.
E assim por diante. Cada vez que buscamos a origem de algo que nos é importante, notaremos sua raiz plantada nos tempos antigos: os antigos nos legram seus saberes.
Começamos esta reflexão, uma filosofia do cotidiano, buscando os ecos do passado em nossos dias. Agora nos vem a indagação crucial: os antigos nos legaram algumas lições e contribuições. E nós, o que legaremos aos nossos descendentes.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

Educação: de quem é a responsabilidade?

Educação: de quem é a responsabilidade?
Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola.
Não que não seja, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.
Então comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste isso que chamamos de educação?
Os mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo. Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.
E com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.
Como estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos, valores e posturas.
E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!
Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço valorativo. O que é conduzido é aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”, mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.
Então voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação? De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu. Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.
E quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a responsabilidade pela educação?
E a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a transmissão de informações consideradas relevantes para o desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar, portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.
A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício, para a ação laboral.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

26 de jul. de 2016

Educar ou ensinar


Educar ou ensinar
Quem é professor sabe disso: a escola está ficando sem tempo para ensinar!
Acontece que tem muita confusão sendo cometida tanto no universo escolar como fora dele. E isso ocorre devido, pelo menos, a duas distorções. O primeiro em relação ao desvio de função e o segundo é um equívoco conceitual.
O que é que chamamos de desvio de função? A escola sendo depósito de entulhos de outras instituições. Sobre a escola está sendo lançada toda a incompetência de alguns setores sociais e/ou da gestão pública. Toda vez que uma instituição ou setor da sociedade confessa não ser capaz de cumprir seu papel transfere sua responsabilidade para a escola a fim de que ela dissemine aquelas ideias.
Explico-me, perguntando: Para que existe escola? Para ensinar! E o que a escola ensina? Uma enorme lista de temas e conteúdos previstos nos documentos oficiais emitidos pelo ministério ou secretarias de educação. A título de exemplo podemos mencionar: Plano Nacional de Educação, Referenciais Curriculares, Parâmetros Curriculares Nacionais, etc e seus correspondentes estaduais e municipais. Em todos esses documentos estão previstos os conteúdos ou componentes curriculares a serem ministrados ou ensinados durante as aulas pelas escolas esparramadas Brasil a fora. E esses conteúdos (componentes curriculares) obrigatoriamente tem que ser ensinados! A prova dessa obrigatoriedade são as chamadas avaliações externas (como a Prova Brasil, por exemplo) que ocorrem nas escolas cobrando esse ensino.
O equívoco conceitual ocorre quando se confunde a educação escolar com educação.
Educação escolar, refere-se ao ensino das matérias, (conteúdos/componentes curriculares) previstas nos programas oficiais.
E a educação (que é dever da família e do Estado, segundo a lei) refere-se à transmissão dos valores socialmente aceitos (repeito à pessoa, respeito aos mais velhos, respeito ao ambiente escolar...).
Esses valores também podem e devem ser ensinados pela escola, mas não é esse seu papel primeiro – sua função é o ensino.
O desvio de função ocorre sempre que são lançadas sobre a escola atribuições que não são de sua alçada. E isso ocorre sempre o que alguma instituição ou setor social (público ou privado) utiliza-se da instituição escolar para fazer aquilo que essa instituição não foi capaz de fazer – e que era sua responsabilidade: saúde, segurança, trânsito...
Por causa da incompetência e do desconhecimento é que acabam jogando tudo no pátio da escola.
O sistema de saúde não tem competência para ensinar e divulgar aquilo que deve ser transmitido à população e socorre-se da escola.
O sistema de transporte (trânsito) é incapaz de ensinar adequadamente e socorre-se com a escola.
O sistema de segurança não faz sua parte e diz que a escola tem que conscientizar as pessoas...
o Sistema judiciário imagina algum projeto e joga para que a escola o desenvolva...
E assim por diante, qualquer instituição ou grupo social que imagina um projeto mirabolante dirige-se a escola para executá-lo. E, dessa forma, se torna cada vez mais difícil a escola cumprir seu papel, pois acaba sendo sobrecarregada com o papel de outros.
Ocorre que essas instituições que não deram conta de fazer seu trabalho e se socorrem com a escola, na realidade não desejam resolver o problema para o qual pedem a ajuda da escola. Se quisessem resultados seriam mais eficientes em sua ação; utilizariam os recursos financeiros de que dispõem de forma mais inteligente; usariam um sistema de intervenção mais universal e eficiente, como os veículos de comunicação.
Mas o pior disso não é o grupo estranho desejar que a instituição escolar realize seus projetos mirabolantes, mas os gestores do sistema escolar permitirem que isso aconteça. E, mais do que permitirem, são coniventes com o desvio de função e erro conceitual. Assim a escola está deixando de ser um espaço de ensino e não consegue ser espaço educativo...
Neri de Paula Carneiro
Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
 publicado inicialmente em: http://www.webartigos.com/artigos/educar-ou-ensinar/142802/