Educação: de quem é a responsabilidade?
Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola.
Não que não seja, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.
Então
comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber
o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste
isso que chamamos de educação?
Os
mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo.
Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que
ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo
tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que
sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.
E
com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza
isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.
Como
estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir
que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem
um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era
educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo
está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos,
valores e posturas.
E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!
Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é
aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não
chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido
é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço
valorativo. O que é conduzido é
aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir
um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que
já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”,
mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.
Então
voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação?
De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no
processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa
situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu.
Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a
atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.
E
quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os
adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a
responsabilidade pela educação?
E
a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a
transmissão de informações consideradas relevantes para o
desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e
ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos
objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o
trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo
bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A
escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar,
portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.
A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício, para a ação laboral.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
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