“Professor só me deu”
Nossa
reflexão neste discurso tem a ver com o aprendizado e o comportamento
do aprendiz em relação ao processo do aprender. Poderíamos dizer, também
que se trata de uma reflexão sobre a falta de aprendizado que vem
crescendo em nossas escolas.
E
esta é uma reflexão que não se ocupa em julgar o estudante, mas em
constatar um fato do qual, talvez, o estudante seja uma vítima... Mas a
vítima fatal e em última instância é a própria sociedade que paga para
ter o melhor e acaba recebendo os acidentes do processo!
A
questão que desejamos refletir, neste momento, diz respeito a uma
atitude que demonstra falta de aprendizado. Ela ocorre logo após alguma
avaliação. Circunstância em que, invariavelmente, algum aluno procura o
professor e, em tom de reclamação e recriminação, pergunta, afirma e
acusa: “professor, só me deu isso de nota!?”
Para
não dizer o que pensa e para não ser grosseiro o professor se cala. Mas
lá no seu íntimo ele pensa – pensar ele pode: “Abestado, foi você e não
eu quem fez a prova!” E vai adiante: “Se a nota foi essa é porque você
não sabia mais”. Em acrescenta, ainda no íntimo do seu pensamento: “Eu
não dei nota nenhuma. Ela é reflexo daquilo que você fez na prova. Se
você acerta um número elevado de questões, a nota é alta, se acerta
poucas questões a nota é baixa. Isso não depende do professor a quem só
cabe ensinar. O aprendizado é do estudante. Se o estudante estuda,
aprende e se aprende a nota vem como consequência. O professor,
portanto, só elabora a prova e a corrige depois que ela foi respondida
pelo estudante.”
Mas
tudo isso fica só na cabeça do professor, pois se disser algo – mesmo
que seja verdade – sua fala pode ser interpretada como grosseria, como
resposta desrespeitosa ao aluno (lembrando que aluno significa
“desprovido de luz” e nessa etimologia o professor é aquele que ajuda o
estudante a se apropriar do lumem (luz) do saber.
Então
repitamos: ao professor cabe ensinar; promover as condições de
aprendizado – condições estas que, em muitos casos, é negada pela
estrutura escolar/acadêmica e noutras vezes produzida pelos aluno. Mas
ao estudante cabe estudar. Por incrível que pareça, por excelente que
seja o professor, se não houver predisposição por parte do estuante, não
haverá aprendizado e, consequentemente, não haverá boa nota.
Diferentemente
do que ocorre no comércio onde o cliente compra um produto e deseja
qualidade, no processo escolar isso não ocorre. O estudante que recebe
as informações disponibilizadas pelo professor pode absorvê-las ou não.
Se deseja e quando quer, aprende e tem boas notas – e se torna bom
profissional! Mas, como ocorre em muitos casos, se o aluno é medíocre ou
desinteressado, nada absorverá. E, o que é pior: dirá que o professor
não lhe deu nota; em alguns casos os próprios pais cobrarão do professor
– e não do aluno – uma melhor nota para o filho, sem cobrar do filho
mais empenho no estudo!
Serão
esses alunos e não os estudantes que, no final do bimestre ou do
semestre, em tom choramingante dirão: “professor, você só me deu essa
nota”. Ou então: “Professor, dá um pontinho! Se eu ficar com essa nota
vou reprovar. Só um pontinho, professor!” E cada vez que vê o professor é
a mesma cantilena lamuriosa: “Então, professor, vai me dar um
pontinho?”
Claro
que o professor que ouve a lamúria e não diz o que pensa. Mas pensa!
Pensa mais ou menos o seguinte: “Como chegamos a esta situação? Se ele
tivesse estudado não precisava mendigar nota.” E se lamenta: “Como pode
alguém se humilhar a este ponto?”.
Pedir
nota é uma confissão de incompetência. Aquele que precisa pedir nota
não a merece, pois não foi capaz de consegui-la por si mesmo. E o fato
de pedir nota significa que não está preocupado em estudar e aprender.
Quer a nota para completar um requisito formal, mas não está preocupado
com a postura ética pela qual pode dizer: “Fui aprovado pelos meus
méritos” e não porque recebeu algumas migalhas de esmola!”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO
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