Política: coisa da besta?
Não tente ver uma conotação
religiosa neste titulo. Trata-se de uma indagação sobre a essência
humana. Ou seja, queremos saber o que faz do ser humano, um ser
humano.
Como entender isso? Vejamos!
Certamente já ouvimos e lemos
alguma coisa sobre um grande pensador da Grécia Antiga: Aristóteles.
Entre outras coisas ele escreveu um livro sobre política, cujo
título é, justamente: “Política”.
Nesse livro apresenta uma das
mais antigas caracterizações do homem: de que somos seres sociais.
Logo no primeiro capítulo diz, que: “o
homem é naturalmente feito para a sociedade política”.
Quer dizer, o homem existe porque vive em sociedade, em grupo. E este
é nosso problema: a vida social depende de decisões políticas, ou
seja: regras de convivência.
Caso parássemos aqui, na
afirmação da natureza política, tudo estaria resolvido. Mas nosso
problema vai além. Nosso problema está na construção do grupo,
pois para viver em grupo o homem depende de regras de convivência. E
a construção dessas regras é um processo e decorre de uma ação
política.
Como, então, entender isso que
chamamos de política? Não a confundamos com as malandragens que se
institucionalizou naquilo que hoje chamamos de política. Na
realidade deve-se entender a política como a negociação que os
indivíduos fazem para estabelecer as normas para viver em grupo. Não
importa se esse grupo seja de duas pessoas ou de milhares. Havendo um
grupo manifesta-se a necessidade das regras de convivência.
E aqui é que se impõe nosso
problema. Antes de viver em grupo, tomamos a decisão de viver em
grupo. E, por qual motivo nos agrupamos? Por que temos necessidade
que só suprimos quando nos juntamos a outros que tem o mesmo
problema. Então juntos, solucionamos o problema que é comum. Isso
significa que o grupo é decorrência de nossa necessidade de
defender ou fazer valer nossos interesses. Ou seja, vivemos em grupo
porque temos interesses a defender.
Vejamos o que disse nosso amigo
Aristóteles, no livro “Política” a respeito desse conflito de
interesses: “Quando
se reclama a soberania da lei, reclama-se o império da divindade e
da razão. Porém quem deseja que o homem governe, de certa forma,
também deseja por uma besta selvagem no governo”
Como podemos
entender isso?
A primeira parte da
afirmação refere-se ao que todos nós queremos: a lei, pois
queremos viver em paz e ordenadamente. Esse é nosso desejo e
aspiração racional. É o que queremos. E dizemos que o grupo social
existe para organizar e defender essa convivência (com-vivência)
Entretanto para
chegar ao que queremos precisamos passar pelo processo da construção
do que queremos. E neste ponto afloram todos os tipos de conflitos e
interesses. Deixamos de agir com a razão para defender os nossos
interesses; e nisso se manifesta nossa animalidade. Animalidade que
se expressa como uma “besta
selvagem”
que assume o governo.
Isso é o que vem
acontecendo ao longo da história da humanidade. São milhares de
anos de história em que a com-vivência, que deveria ser o objetivo
do grupo e da política, deixa de ser o objetivo para que, sobre ele,
se imponha o interesse particular. É quando não mais a razão e lei
prevalecem, mas a “besta selvagem”. E isso não foi inventado por
este ou aquele partido da atualidade, mas vem se impondo ao longo dos
milênios.
E hoje, dizer que
este ou aquele partido que eventualmente esteja no governo é
corrupto ou está roubando, é o mesmo que confessar ignorância,
esquecer que há uma animalidade em nós ou, pior ainda, é porque
fazemos parte do grupo que deseja tirar aquele que hoje está
roubando para entrar em seu lugar e roubar também! É a besta
selvagem que está falando!
Neri de Paula
Carneiro
mestre em educação,
filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
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