Não é de hoje que a coisa vem piorando. Paciente com enfermidade crônica, a educação no Brasil não vem recebendo medicamentos. Está condenada a morrer por omissão de socorro na porta do hospital da vida.
Mas o triste disso tudo é que a responsabilidade por essa situação é atribuída á própria educação. Ou então se joga a culpa nos professores, nos estudantes, na família, na sociedade. Mas na realidade, a quem interessa que a educação morra? A quem interessa o fim da Educação? ao, mais ainda, o que é educação?
O fato é que a Educação não é responsável pela sua enfermidade. A causa do problema deve ser buscada num nível mais profundo. É necessário analisar as várias causas, estruturais, do problema.
Então, reflitamos o problema: O professor é mal remunerado e com isso desincentivado... Em geral recebe muitas cobranças e poucos incentivos. Embora apaixonado pela arte de ensinar, o professor precisa sobreviver. Portanto não se estranhe se ele precisar deixar a sala de aula para sobreviver e alimentar seus filhos. Só o amor não alimenta. E se não deixa de ser professor se sobrecarrega com várias horas de aula. Com dupla jornada, trabalhando em várias escolas, indo além do que um mortal pode suportar.
Além disso, não é estranho a ninguém o aumento do desrespeito, da superposição de obrigações jogadas sobre a escola e sobre os ombros do professor. Crianças ou adolescentes e jovens delinqüentes são jogadas, por determinação judicial, dentro do pátio das escolas, fazendo com o que a instituição escolar, que já tem seus problemas específicos, seja obrigada a conviver com problemas que deveriam ser tratados por psicólogos, carcereiros, polícia... – digo conviver por que não irá solucionar o problema, antes, pelo contrário, aumentará o problema, pois além dos que já enfrenta, recebe um outro que não é de sua alçada. E dessa forma o poder público diz que está resolvendo, quando, na verdade, está se esquivando e passando sua responsabilidade para outros.
Gostaria de saber se um juiz, um promotor ou alguém que toma essas decisões estapafúrdias gostaria que seu filho convivesse, diariamente, no pátio escolar, com delinqüentes. Não só conviver, mas sofrer as ameaças, as agressões ou as influências desses que são obrigados por decisão da lei, a permanecer na escola – não estou dizendo que não têm direito à educação escolar! Estou afirmando que o atual sistema escolar não tem os recursos materiais e humanos para dar esse atendimento.
E a mesma lei que é usada para manter o bandido no pátio escolar, não obriga o Estado a arcar com profissionais qualificados e treinados para dar segurança e acompanhamento específico a essas crianças e adolescentes.
A família passa por uma crise de desestruturação. Os lares foram invadidos pelas gangs de droga, do desrespeito, da irresponsabilidade. Há tempo morreu o que se pode chamar de expectativa de futuro melhor. Para os jovens, para as famílias e para o Brasil. E quem saiu perdendo nisso foram às famílias... (E a escola!).
E mais ainda. Como um pai de família pode educar seu filho se precisa sair de madrugada para o trabalho, voltando já tarde da noite, cada dia mais cansado... e cada vez mais na miséria?... Isso quando não chega de um trabalho e tem que sair para outro, para complementar a renda a fim de alimentar a família.
O que sobrou para a sociedade? Para superar o que era arcaico a nossa sociedade acabou perdendo a noção do valor humano. Onde estão os valores da entre-ajuda, da solidariedade, (da Justiça), do amor á pátria, da verdade? Do respeito à pessoa, do respeito aos símbolos ...
Não quero voltar ao passado, mas novamente estamos precisando de um Diógenes que saia às ruas com uma lanterna na mão, em pleno meio dia para procurar um homem. Nossa sociedade precisa de homens e mulheres com sólidas raízes no futuro, trazendo luzes para nosso tenebroso presente.
Nisso tudo a vítima maior não é a educação... (que já está condenada). Nem os professores... condenados a dobrar carga horária atrás de salário. Nem são as escolas, entregues a depressão, matagais, insetos, gangs (retrato dolorido duma sociedade deseducada e incapaz). Também não são os estudantes que não têm perspectiva nem de trabalho nem de desenvolvimento: as oportunidades estão se acabando.
As vitimas mais atingidas são nossos filhos, os estudantes, atingidos pelos descaminho em que entrou a sociedade. As maiores vitimas, dessa situação catastrófica são as futuras gerações, as quais, como ainda não têm poder de decisão, são obrigadas a engolir o que a mídia impõe. As maiores vitimas somos nós mesmos, remoídos pelo grito de nossa consciência omissa, abraçada com a indiferença.
Enquanto isso a educação continua HOSPITALIZADA: e os órgãos governamentais desculpando-se e alegado falta de verbas; enquanto isso o dinheiro público é esbanjado em propaganda de auto-promoção ou inauguração de obras inacabadas; enquanto isso os tecnocratas, burocratas e muitos gestores dos destinos da nação se empanturram com o dinheiro público – o mesmo que é negado para a melhoria do salário do professor... ou do ambiente escolar
E lá, no hospital da vida, os interesses capitalistas continuam matando a educação. E isso continuará até que seja tarde demais... ou até que nós tornemos uma providência...
Neri de Paula carneiro
Filósofo, Teólogo, Historiador
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