20 de out. de 2007

45

Parece estranho, mas o titulo deste texto é esse mesmo: 45.
Mas não estou me referindo ao calibre da bala que simboliza os filmes violentos de violência policial.
45, neste caso, é o tempo pelo qual o camarada lá do senado pediu afastamento: 45 dias.
Depois de tanta chantagem e “maracutaia” (estão lembrados desta palavra?) o sujeito conseguiu não ser afastado pelos seus comparsas nem pelos seus adversários que ficaram com medo que ele jogasse “merda no ventilador”. (Os olhos mais pudicos que me desculpem, mas a palavra é essa mesma! Principalmente porque o camarada ameaçou jogar os nomes de alguns “seniores” fazendo com que o mau cheiro que eles compartilham se espalhasse pela nação inteira – lembrando que cada 3 deles representam um estado deste violentado país, tantas vezes saqueado e estuprado).
Pois é, o cara pediu 45 dias de afastamento.
Tempo suficiente para ele fazer outros conchavos (alguém se lembra dessa palavra?). Tempo suficiente para seus adversários tramarem uma estratégia “honrosa” (como se honra houvesse em trair o país!). Tempo suficiente para se espalhar mais boato que alimenta os veículos de comunicação. Tempo suficiente para que a população, movida pela força da mídia, e não pelas próprias opiniões, esqueça o caso. Tempo suficiente para se procurar outro fato a ser explorado pelos noticiários. Tempo suficiente para que possam trocar as toalhas da pizzaria dos pratos invertidos com dois obeliscos no meio!
45 dias.
Flagrado em mais uma tentativa de violação de direitos individuais, o camarada ainda se dá o direito de se licenciar do cargo, sem perdê-lo ou sem renunciar a ele. Apenas se afastando por 45 dias.
Em seu lugar assume um suplente, pessoa de sua confiança, que foi pinçado ao poder por meio da sombra do mafioso.
Nesse meio tempo rola o lançamento do “Tropa de Elite”, mostrando a face vil da polícia do Brasil ao lado da verdadeira face do crime organizado, do tráfico de drogas e de sua alimentação graças aos discursos inflamados dos “ongueiros” de plantão e de outros tantos consumidores. Tanto que se tornou “clichê” na mídia a afirmação: quem “financia” o tráfico é quem compra a droga. Quem financia o tráfico são os usuários que a compram com dinheiro que é usado para pagar a corrupção, as armas e o contrabando de mais droga. Frisando que quem compra droga não está na periferia, nem nas favelas, nem são as pessoas pobres. É bom que se diga, de uma vez: os usuários pobres não têm dinheiro para comprar droga – a não ser quando fazem pequenos roubos. Quem paga a droga com dinheiro é quem tem dinheiro: pessoas que trabalham ou seus filhos que recebem mesadas. Pobres e filhos de pobres, para usar droga tem que roubar ou trocá-la por serviço: fazendo tráfico ou se prostituindo.
Nesse meio tempo continua o processo de agressão à natureza. Vi e ouvi coisas por aí, nesse meio tempo, que é de arrepiar os cabelos de um careca como eu. Contaram-me alguns chacareiros que viram suas nascentes e igarapés e plantações arrasadas por porcos de um vizinho. Disseram ter procurado todos os órgãos públicos em busca de solução, só ouviram que deveriam procurar tal e tal e tal outro órgão. A resposta foi sempre o silêncio ou o: “procure tal órgão”. Um desses chacareiros filmou os porcos em ação fuçando as nascentes e mandiocais e canaviais e outras plantações e as autoridades procuradas disseram que “vamos verificar”. Nem as emissoras de TV, da cidade, se deram ao trabalho de ver as imagens, menos ainda de fazer reportagens sobre o caso. Ou seja, o meio ambiente importante e que vira notícia é só aquele do outro lado do mundo. Aqui, em nossa cidade, pelas vias legais, para a mídia local, não tem solução. Não chama a atenção!
Nesse meio tempo, um outro sitiante, que está perdendo suas nascentes para as enxurradas que vêm das ruas abertas pela prefeitura. Também não recebeu atendimento. As nascentes de seu sítio, na beirada da cidade, estão ficando completamente assoreadas: Com terras erodidas das ruas de um dos bairros da cidade. Serviços de urbanização, realizados pela prefeitura abriram ruas, abriram esgotos, direcionando as enxurradas das ruas para as nascentes do pobre homem que procura solução, na prefeitura e o mandam procurar tal órgão de onde recebe a orientação de procurar tal outro órgão, que o direciona para outro...
Tudo isso e muito mais, acontecendo nesses 45 dias.
Como diz a letra daquela música: “não existe pecado do lado debaixo do equador. Vamos fazer um pecado, rasgado, suado...” E se não existe pecado, também não existe crime. O crime ambiental, daqui, não é considerado; o crime do senador, lá, não é considerado...
Retifico: existe crime. O crime é dizer a verdade.
É mais fácil eu ser perseguido, processado e condenado por estar falando o que digo nestas linhas, do que quem agride o meio ambiente, ou trai a nação, ou saqueia o povo! Também não será punido quem chafurda nas maracutaias, lá naquele Planalto distante. (A distância, não é geográfica, mas em relação aos eleitores e ao povo deste belo país). Em vista disso afirma-se que Rui Barbosa teria dito: “hoje em dia as pessoas sentem vergonha de serem honestas”
Tudo isso e muito mais nesses 45 dias.
45 dias que um sujeito se deu, de férias – pagas com o nosso dinheiro. Depois ele volta: ou para continuar seu mandato ou para um novo mandato... Tantos outros já voltaram...
Nessas alturas do campeonato...
Sobra-nos o consolo de, olhar a bunda da amante daquele camarada, tirando a calcinha, na capa da revista!!!

Neri de Paula Carneiro
Filósofo, teólogo, historiador.

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