8 de mai. de 2007

Burocracia

Burocracia, em nossa bela língua nacional, é uma corruptela de uma palavra francesa que significa escritório – digo isso porque o mico que hoje pagamos pelos americanismos já o pagávamos, tempos atrás, pelo modismo francês. Mas isso pouco tem a ver com o que hoje quero comentar. Hoje quero falar da burocracia que impera e emperra este país.
Acredite ou não o que vou contar é a mais pura verdade e, não duvido, você deve conhecer casos semelhantes – ou piores!
Um amigo meu dia desses precisou de uns documentos que deveriam ser expedidos por um determinado órgão público. Chegou lá. Informou-se sobre os procedimentos para solicitar e receber o tal documento: “você tem que preencher este formulário, requerendo” – disse a pessoa que atendia. Meu amigo, que tinha pressa do documento, pegou sua caneta e preencheu o formulário; assinou e entregou. “Não, meu amigo, você tem que preencher usando aquela máquina ali”, retorna o atendente, apontando para uma velha máquina de datilografia, ao lado. Meu amigo pediu desculpa – quem precisa de um documento tem que se sujeitar a certas humilhações – e pediu outro formulário, pois o primeiro fora preenchido à caneta, na frente do funcionário que atendia e que exigia que o preenchimento fosse à máquina.
Não pense que a história acabou com o fornecimento de um novo formulário. O funcionário dessa dita repartição pública – o escritório que se traduz por “burrô”, em francês, de onde deriva a tal burocracia! – procurou pelas gavetas e não achou outra via do tal formulário. Ato contínuo, foi ao computador, selecionou um documento e o imprimiu – era o formulário. Meu amigo só pensou, mas não quis perguntar: “Já que o formulário está no computador, por que, o próprio funcionário não o preenche e o requerente só assina....?” Meu amigo é amigo da burocracia. Pegou a nova cópia, foi para a empoeirada máquina de datilografia e preencheu o formulário que poderia ser agilizado pelo computador.
A história ainda não terminou. Depois de assinar e entregar o requerimento, meu amigo ouviu a sentença: “O senhor pode passar aqui amanhã, às 10 horas!”. Meu amigo saiu. E voltou no outro dia às 10 horas. O documento estava pronto. Só faltava o chefe assinar!
O chefe estava na mesa ao lado. Meia hora depois o documento estava assinado. Meu amigo recebeu o documento e passou os olhos para conferir. Seu nome estava escrito errado. Sentiu o coração esfriar, pensando na dificuldade que deveria enfrentar novamente para receber o documento; pensou que receberia o documento só no outro dia...
Mas não foi o que aconteceu. Meu amigo mostrou que seu nome estava errado, o funcionário conferiu e constatou o erro – só disse que quem havia digitado fora seu colega – e foi para o computador que fora usado na véspera para emitir o formulário. E o funcionário deu os comandos, corrigiu a letra que estava errada e imprimiu o novo documento. Menos de 5 minutos depois o meu amigo estava saindo com o documento que necessitava....
Conseguiu sentir o drama dos brasileiros: 24 horas de espera (sem contar a meia hora de espera pela assinatura!) por um documento que poderia ser emitido em menos de 5 minutos.
Dispensa comentários, não é mesmo?!
Mas vou comentar! Se não fizer isso não fica um texto burocrático!!!!
Pense um pouquinho: um órgão público tem a função de atender – e bem – ao público. Então esse órgão e informatizado. A gente pensa que isso é para melhorar o atendimento, apressar o processo. Mas não. O requerente tem que preencher, numa velha máquina de escrever (nada contra ela, que teve seu espaço e foi muito útil, até ser substituída pela nova tecnologia informatizada!), um formulário que poderia ser preenchido no computador. Aliás não há necessidade desse formulário, pois o requerente está ali na frente, e o documento solicitado está disponível no mesmo computador... Note-se que poderia se ter acesso a essas informações em nossa própria casa, pela internet, como se tem para várias certidões da receita federal, por exemplo....
Com os programas de busca, o computador realiza a procura da ficha da pessoa em segundos. É só atualizar os dados exigidos e mandar imprimir. E alguns órgãos públicos – e alguns privados também! – mandam o sujeito esperar 24 horas por um documento que pode ser emitido em apenas alguns minutos.
Será que estão brincando de serviço público. Ou será que estão pensando que o contribuinte – que paga impostos, que paga o salário daquele servidor que atende de má vontade – procura o órgão de serviço público só por brincadeira? Será que pensam que o povo não percebe a má vontade em atender? Será que quem gerencia os órgãos públicos ... ?

Neri de Paula Carneiro
Colégio Galileu Galilei
R. Moura
(Publicado em 2005 em Folha da Mata)

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprendi muito