Este texto não é laudatório às mães e nem uma alusão ao dia das mães. Trata-se apenas de algumas considerações que podem ser feitas a partir do que algumas mães me disseram terem ouvido de professores.
Este, portanto, é um texto com a finalidade de polemizar com meus colegas professores.
Dia desses ouvi esta observação, de uma mãe indignada. Ela dizia que, como sempre faz, procurou a escola para ver o desenvolvimento de seu filho, de 5ª série. Fim de ano chegando, notas baixas, essas coisas. E quis, com razão, saber o por que das notas baixas. E ouviu da professora de matemática: “É problema de interpretação! As crianças chegam à 5ª série sem saber interpretar o que lêem. As professoras de 1ª à 4ª série são despreparadas”
E a mãe, em questão disse que teve que concordar, pois seu filho mal sabe ler. E não sabe dizer o que leu! Mas a indignação dessa mãe não foi por causa disso. Foi porque a professora de matemática, primeiro: não está ensinando essa criança a interpretar, pois se já sabe que o problema é esse, então que o solucione. Segundo: tirou a responsabilidade de suas costas e lançou a culpa em um colega, que não pode se defender. Terceiro: essa professora de matemática simplesmente está fugindo do problema.
Mas as observações não param por aí. Outra mãe, também preocupada com as notas baixas do filho ouviu da supervisora: “não se preocupe com as notas baixas. Ainda tem exame e recuperação, até o fim do ano!” Quer dizer, então, que ainda no meio do ano a escola já pensa em aprovar o aluno através da recuperação e do exame? Mas é essa a finalidade da escola? Eu pensava que a finalidade era ajudar o aluno a aprender. Como fica a questão do ensino-aprendizagem? Eu estou enganado ou não vale mais aquela afirmação de que se o aluno sabe a nota vem como conseqüência?! E para ele saber tem-se que lhe ensinar!
Percebam como a observação da primeira mãe se encaixa com a segunda. A escola preocupada em aprovar através do exame e recuperação está se esquecendo de ensinar. E não ensinando a criança “passa de ano” sem saber. E lá na frente encontra um professor que, para fugir de sua responsabilidade diz: “eles não sabem interpretar!”
Esta dispensa comentário. A mãe disse que sua filha sempre gostou de inglês (não sei se sebe bem o português!). E lá pelas tantas a menina de oitava série pediu para ir ao banheiro. Só que falou em inglês – na aula de inglês – e o professor (de inglês) não sabia o significado da expressão proferida pela menina! (claro que aqui pode entrar o problema da pronuncia, etc.) Mas, diz a mãe, sua filha sempre foi elogiada pela facilidade e fluência. Aí fica a indagação: ou os professores anteriores não sabiam e “empurraram” a menina ou o atual professor é que não sabe... de qualquer forma esse problema leva a outra situação, também comentada por, desta vez, um pai.
Esse pai, também reclamando do falta de preparo de um professor disse que ouviu do diretor da escola: “sinto muito, mas não podemos fazer nada. Sabemos que o professor é despreparado, mas é o que a representação de ensino nos mandou. Se não aceitarmos esse ficaremos sem professor. O senhor não quer que seu filho fique sem professor, não é mesmo?!”
Perceberam o tom de ameaça! Ou você aceita esse professor (despreparado, que não preparará o aluno. E no futuro outros professores dirão que ele não foi bem preparado nas séries seguintes...) ou seu filho fica sem professor! Que dilema, né! Será que não existe um controle de qualidade? Um PROCON? O que é melhor: ter um professor despreparando o estudante ou não ter o professor? E o pior de tudo é o diretor dizendo que não pode fazer nada! Se não pode fazer nada então não tem por que ter direção (e supervisão e orientação e tudo o mais) numa escola!
Mas a maior vem agora. Eu mantenho um cursinho pré-vestibular. Portanto seria legítimo de minha parte, esperar que as escolas deixassem os alunos mal preparados para que eles venham procurar o cursinho para passar no vestibular. Mas acontece que pago imposto e quero que meu dinheiro seja bem aplicado. Principalmente o dinheiro destinado à educação. Por isso acredito ser inaceitável que a escola faça este tipo de recomendação aos pais. Principalmente neste caso desta avó, que vive de aposentadoria.
A velhinha nos procurou, junto com seu neto da oitava série. Queria aulas particulares. “a professora disse que se meu neto não fizer umas aulas particulares não terá condição de passar!”
O que esse tipo de professor está fazendo numa escola? Se o professor manda seu aluno procurar aula particular é porque está confessando sua burrice e não merece o salário que recebe, pois não está ensinando! – É bom lembrar que o professor recebe um salário que não é de jogar fora (podia ser melhor, mas o de Rondônia já é um dos bons, que se paga no Brasil)
Não me cabe, aqui, fazer um julgamento de alguns maus colegas ou do sistema escolar. Mas é bom lembrar que o servidor público é servidor da população que lhe paga os salários. Nem que seja só por isso a população merece ser melhor atendida. E isso vale para a saúde, segurança e outros serviços públicos!
Neri de Paula Carneiro
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