Greve é coisa grave, grave isto! E tem, isso, um significado grave: Significa que os dois lados da contraditória sociedade capitalista resolveram explicitar essa contradição em um conflito, radical, medindo forças.
Greve é a faca no pescoço. Os dois lados estão dispostos a morrer em nome ou em defesa daquilo que defendem: melhores condições de trabalho e melhorias salariais, reivindicam os trabalhadores; e manutenção dos padrões atuais, exigem os empregadores. E dizem isso principalmente porque a situação lhes é cômoda e o incomodo é gerado pela greve!
Qualquer categoria profissional tem direito constitucional de entrar em greve. E todos os empregadores dirão que isso é coisa de quem não quer trabalhar, é coisa de agitador... há tempos atrás se dizia, como forma de tentar ofender o trabalhador, que greve é coisa de comunista, ou de petista; mas com o apagão político que ocorre no país...
Para ser exato, no Brasil, o movimento grevista começou com a chegada dos anarquistas, no início do século XX. E, o mais importante, nenhum grande movimento histórico, nenhuma das grandes realizações da humanidade ocorreram sem que houvesse situação de atrito. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência pode olhar para a história e perceber que os movimentos reivindicatórios são executados pelos que pensam criticamente.
Com isso diante dos olhos, olhemos para os profissionais da educação. E aqui surgem alguns problemas, que não existem em outras categorias. Noutros países o sistema educacional é altamente valorizado. Paisinhos merrecas por aí, investem em seus sistemas escolares, com sucesso. Aqui o sistema educacional é visto como gerador de despesas. O descaso é tanto que organismos internacionais já falam em apagão na educação.
Em clima tórrido como o nosso, os alunos desmotivados por vários fatores, são obrigados a permanecer por quatro horas em uma sala, com outros trinta e poucos colegas, debaixo de um ventilador que não funciona. Duvida? Visite uma escola de periferia! Várias estão com aparelhos de ar condicionado, novos, estragando nos depósitos; e os alunos derretendo em salas superaquecidas.
Entre numa sala de aula e veja o desconforto das carteiras escolares e conte quantas estão quebradas; veja quantas lâmpadas queimadas... Não esqueça que a escola é pública, portanto não tem renda própria para comprar lâmpadas e instalar outros equipamentos. A verba que vem dos programas oficiais, tem destino específico, não pode ser direcionado para as reais necessidades das escolas, sob pena de o diretor ser preso por desvio de verba.
Nossas escolas, por força de lei, são obrigadas a acolher portadores de necessidades especiais (cegueira, paraplegia... etc), mas as instalações são inadequadas: os degraus dos pátios impedem a circulação e as valetas produzidas por enxurradas, são armadilhas para a segurança física das crianças.
Isso sem falar nos delinqüentes que são colocados no convívio com outras crianças, sem acompanhamento de nenhum agente da lei. Eles acabam ensinando a bandidagem aos demais alunos visto que ninguém das escolas tem autoridade sobre eles.
Nesses dois casos os professores são obrigados a se calar, pois a força absurda da lei não pergunta pela qualificação dos profissionais da educação, para trabalhar nessas situações. O argumento é que “deveriam estar preparados”, mas o fato é que não estão. Quem consegue se preparar por conta própria com salários defasados (cursos e treinamentos custam caro!). Por parte do poder público, mantenedor do sistema escolar, não foi oportunizada formação específica, depois de vários anos de existência dessas leis. Além disso, professor não é assistente social, nem carcereiro!!!
Devem ser usadas as novas tecnologias? Há escolas, em Rolim de Moura (e o mesmo ocorre em outras localidades), com mais de 1000 alunos e que possuem dois ou três aparelhos de TV e Vídeo/DVD. Computador? Tem alguns, mas muitas vezes inacessíveis à maioria dos alunos. Biblioteca? Num canto, meio escondida, como que com vergonha de seus poucos livros rotos. Salas de leitura? Existem, se montada pela iniciativa heróica de alguns professores, sacrificando suas horas de descanso. Reformas, nas escolas? Quando ocorrem demoram vários meses, atrapalhando as aulas ou colocando em risco a segurança dos alunos.
Com um quadro desse, com as devidas exceções e os respectivos agravantes, creio que falar em greve não é coisa fora do comum. E se os país se interessassem pelos filhos, eles é que fariam greve! Lembrando que os que entraram em greve só reivindicam duas coisas: melhores condições de trabalho e de salário.
Podemos, para concluir, propor uma troca: colocamos os membros do executivo, do legislativo, por um bimestre, sem seus assessores, para trabalhar em uma escola. Fazer tudo que os professores fazem – sem ajuda de seus assessores. (Podem manter seus salários de 15 mil). Terão que apresentar a mesma produtividade dos professores, sem ajuda dos assessores.
Depois de um bimestre, nas mesmas condições dos professores, sem seus assessores, veremos o resultado!
Greve é grave! É um teatro com artistas, em palcos diferentes, tentando convencer a platéia, de que o seu show é o melhor. Mas, quando falamos em educação, o objetivo não é o show, mas a platéia depois do espetáculo.
Neri de Paula Carneiro
Filósofo, teólogo, historiador
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